Ela Estava perdida. Pressa em um labirinto de escuridão sem fim. Vez ou outra uma luz inexplicável se mostrava doce para seus olhos faiscantes, então ela corria, fascinada com a idéia da liberdade. Seu vestido já corroído pelo tempo ganhava vida, e também parecia brilhar, esvoaçando pelo seu corpo esguio, acompanhando o balanço de seus cabelos negros.
A luz aumentava a cada passo dado pela moça, em sincronia, para enfim apagar-se total e violentamente revelando um abismo de sentidos.
Seu corpo inerte e desamparado procurava equilíbrio, esse que foi perdido quando deixou de ser cuidadosa, largando as paredes que mesmo puídas e bolorentas lhe davam sustento.
Essa não era a primeira vez e era obvio, inclusive pra garota, que não seria a ultima. Ela corria, e correria pela simples possibilidade de tocar aquele brilho, que mesmo tão distante lhe aquecia a alma e tirava-lhe o desespero, transformando-o em esperança.
Sentia tanto, buscava tanto e isso lhe trazia indignação... Como podiam "os outros" ignorar tudo aquilo?
Sim, haviam outros. Milhares deles escondidos e conformados nas esquinas do labirinto, e por vezes tentou mostrar-lhes o que via e convencer que a seguissem, mas como eles nunca respondiam ela passou a afastar-se. Eles não cheiravam bem e seus toques eram frios e pegajosos... Como as paredes.
Enquanto se recostava no escuro lembrava com carinho de seus rápidos, porém valiosos vislumbres: Quadros nas paredes, cores gastas em tons pasteis, suas mãos e vestido azul e por fim uma silhueta contra a luz, um ser indefinível que ela jamais esqueceria.
Poderia ser facilmente um dos "outros", mas eles nunca se afastavam das paredes... A garota então percebe e sai de seus devaneios, mais calma se apruma e recomeça sua caminhada, esperando, desejando com cada fibra do seu ser o próximo encontro, a próxima migalha de clareza que a nortearia naquele eclipse eterno.
**Seria fantástico chegar ao fim, e poder enxergar tudo com nitidez. Mas a verdade é que a procura é mais difícil, a luta mais dolorosa e o fato é que nem todos suportariam "a luz" pois depois da beleza haveria toda a dor e feiura.
Ver os labirintos é ainda mais assustador, pois "os outros" também são você, e como um todo verá que passou grande parte da vida construindo grande parte desses muros, esses que o prendem e torturam, mesmo sem saber, ou sem "querer" saber.
E para esta menina/garota que busca respostas o fim esta obviamente mais próximo. E se pudesse ver que no fim são todos como ela foi, e ainda assim tão distintos do que ela é. Pois ao contrário dela eles ainda estão em amarras invisíveis e ainda possuem as bocas costuradas.
Mas ela não sabe.**